"Prometo Falhar"... (mas não muito)!
- Marina Duque
- 23 de ago. de 2018
- 4 min de leitura
A coisa que mais gostei no livro do Pedro Chagas Freitas, "Prometo Falhar", foi o título. Não me identifico muito com o tipo de livros que retratam aquelas paixões loucas e falam de uma forma quase doentia sobre o sofrimento do amor. Levei o meu tempo a descobrir (mas cheguei lá) que não existe sofrimento no amor. O amor, tal como nós, simplesmente É! É e quando se dedica a Ser de uma forma pura e essencial, preenche tudo o que existe, tudo o que somos e transforma-nos por completo a existência. Então, fico confusa e baralhada quando sou confrontada com a ideia de sofrer por amor. As pessoas sofrem por serem pessoas. As pessoas sofrem porque têm personalidade e ego. As pessoas sofrem porque criam em si a expectativa e a ilusão de que o outro é que as vai fazer verdadeiramente felizes, se possível, exactamente da maneira como elas imaginaram. Não é o amor que faz sofrer, é o vazio, é a saudade, são as expectativas goradas, são as ilusões a caírem por terra, é o medo da rejeição e do abandono e é o medo da solidão. Quanto mais inteira uma pessoa for, quanto mais cultivar o amor dentro dela, menos sofrimento sentirá, simplesmente porque não haverá espaço para o sofrimento existir.
Por outro lado, a promessa de que vou falhar é algo que eu considerei genial e que veio trazer uma dor de cabeça ao meu ascendente em Virgem. Ser Leão com ascendente em Virgem é como ter Perfeccionismo escrito na testa. É estar constantemente em busca de uma perfeição que sabemos que não existe, mas ainda assim insistimos em acreditar que podemos chegar lá perto. "Prometo Falhar" é uma espécie de mantra levezinho para alguém como eu. Não que eu queira mesmo falhar. Eu só quero ser capaz de aceitar que falhar é uma possibilidade, tornar-me mais humana vá. É que viver 24 horas por dia com a pressão de ser perfeita, tira-nos humanidade e dá-nos uma mochila demasiado pesada para carregar. Embora eu compreenda e defenda os benefícios de uma mente treinada para ser positiva, assumirmos para nós mesmos que, de vez em quando, vamos espalhar-nos ao comprido, vamos fazer disparates e vamos meter a pata na poça é sermos gentis connosco e é tão fundamental quanto ser positivo.
Sempre fui a favor do equilíbrio das coisas e nunca gostei de nada que seja extremista. Uma das coisas que me preocupa é quando vejo aquelas pessoas que carregam os livros todos da Luise Hay debaixo do braço e que acordam de manhã a recitar afirmações positivas. Fico sempre a pensar sobre o que irá acontecer a essas pessoas quando forem confrontadas com um daqueles desafios bem profundos, daqueles que nos desafiam mesmo à séria e que nos viram a vida do avesso? Aqueles que nós precisamos mesmo de nos afastar do mundo, olhar para dentro, aceitar a nossa dor, olhar nos olhos das nossas sombras, lamber feridas profundas, para depois sermos capazes de voltar ao mundo, mais inteiros e mais sólidos? Na melhor das hipóteses as pessoas estão a fazer o trabalho de casa, estão bastante inteiras internamente e a coisa corre bem, mas e se não estiverem?
As afirmações positivas são uma ferramenta excelente para treinar a nossa mente em algumas situações, mas não podem servir como camuflado para aquilo que realmente precisamos ver e trabalhar dentro de nós. Se eu sou insegura, não duvido que tratará benefícios maravilhosos repetir para mim, várias vezes ao dia, "eu estou bem, eu estou segura, eu estou confiante", desde que isto não faça com que eu passe completamente ao lado de tentar perceber porque é que eu sou insegura ou do que é que efectivamente me está a criar insegurança. Não me vou armar em psicanalista até porque não o sou, mas ás vezes perceber o que está por baixo do tapete em vez de continuar a varrer para debaixo dele, vale milhões de recitações positivas. Se eu tiver medo, mais vale admitir de uma vez por todas que tenho medo e tentar perceber de onde vem o medo, em vez de andar a dizer para mim 500 vezes por dia que não tenho medo.
O mundo vive de um equilíbrio perfeito que se estende aos seres humanos. Tudo o que em nós estiver em excesso ou em insuficiência vai provocar desequilíbrio. Quando eu digo que sou perfeccionista, eu estou a declarar que sou exageradamente minuciosa, rigorosa, que gosto de ter tudo bem feito a tempo e a horas. A maioria dos patrões vão valorizar e agradecer esta "competência", mas no meu caso, o que eu estou a dizer é que tenho um medo terrível de falhar: porque posso ser despedida, porque a minha amiga pode deixar de gostar de mim, porque posso perder o controle da coisa e ter problemas, porque não gosto de ser criticada, porque posso perder dinheiro e a lista podia continuar. Aceitar que (eventualmente) posso falhar é permitir-me respirar por um bocadinho, é lembrar-me de confiar na vida, é saber que tudo tem um propósito, um motivo e um tempo para acontecer, é não levar tudo como se fosse uma questão de vida ou de morte, é comprometer-me e dedicar-me, mas deixar a vida correr e seguir o seu caminho. Em suma, é permitir-me ser humana por um bocadinho e deleitar-me com essa condição.
E vocês, costumam falhar?

Comentarios