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Ensaio sobre a Autenticidade

Já falei outras vezes aqui sobre forma como ao longo da minha vida fui acusada (e ainda sou) de ser demasiado intensa, demasiado emocional, demasiado dramática e de como isso fez estragos profundos em mim ao longo dos anos. Resumindo a história, a dada altura passei mesmo a acreditar que tinha um problema. Na verdade passei a acreditar que EU ERA um problema. Tornou-se crónico. Durante anos sentia-me como se tivesse estragada, como se fosse uma espécie de verruga, sabem? Chata, incómoda e nada atraente. 

Posso dizer-vos que uma das coisas mais difíceis que já tive que fazer na vida foi lidar com os estragos causados por esta sensação de nunca ser suficiente no que era bom e de ser demasiado em tudo o que era "mau". A Astrologia ajudou-me a compreender porque é que sou assim e que é perfeitamente natural que seja, contudo não faz com que seja mais fácil enfrentar o caos interno que tende a existir em mim, nem faz com que não tenha que o viver. Ajuda-me apenas a vivê-lo de uma forma mais consciente e equilibrada. Ajuda-me a encontrar o caminho para harmonizar o caos. Ainda assim é um processo e Roma e Pavia não se fizeram num dia. 

Outra das coisas mais difíceis que tive que fazer foi integrar que não estava estragada e que não era uma verruga. Sim, os outros nem sempre me compreendem e nem sempre conseguem lidar com a força da minha intensidade, mas isso não faz necessariamente com que eu seja um problema e também foi a astrologia que me ensinou isto. 

Em toda a minha vida, as pessoas que mais regiram à minha intensidade estavam desligadas das suas próprias emoções. As pessoas que mais me disseram que eu não era suficiente foram pessoas que tinham desistido de si mesmas ou que tinham graves problemas de autoestima ou autoconfiança. As pessoas que me diziam que eu ria muito alto, eram pessoas que tinham perdido a capacidade de se entusiasmarem com a vida e a alegria pela vida. Então, não estou a dizer que não se oiçam as opiniões dos outros, mas que não se façam delas uma regra porque vão ser perceções com base na experiência individual de cada um. Se eu for mais introvertida e tiver uma pessoa extrovertida à minha frente, ou estou muito bem resolvida com quem eu sou, ou não me vou sentir bem na presença dela. Os nossos santos não se vão cruzar. Então, ouvir opiniões? Sim. Estar recetivo a elas? Sim. Mas tomá-las como verdades absolutas? Ou vêm de alguém que sabem que consegue ter a capacidade de se distanciar da sua própria experiência, ou absolutamente NÃO!

E só para deixar isto um bocadinho mais complexo, somos nós que atraímos essas pessoas para nos espelharem aquilo que não estamos a ver em nós. Se eu me sentir envergonhada ou culpada por ser demasiado emocional, vou atrair pessoas que me vão meter o dedo na ferida até eu a curar. Vão apontar o dedo ás minhas emoções como uma coisa desconfortável, desagradável, até eu as aceitar, acolher e assim, aceitar-me e acolher-me a mim. Não há nada de errado nisto e que nem sequer é nada pessoal. Nós funcionamos assim, crescemos assim, evoluímos assim, através do confronto interno connosco e do confronto externo com os outros. Não importa se é o Zé, o António ou o "Manel" a meter-nos o dedo na ferida, porque enquanto ela doer, vão sempre aparecer Zés, Antónios e Maneis para nos oferecerem a oportunidade de nos "curarmos". E nós vamos continuar a aparecer na vida deles para os presentear com a oportunidade de se "curarem" a si mesmos. 

Então não vale a pena ficarmos zangados ou magoados com as pessoas uma vida inteira porque elas nos magoaram. Elas apenas nos mostram onde nos dói. A nós cabe-nos perceber porque é que dói. Que partes de nós estamos a rejeitar, projetar, a não acolher, para doerem. E eu já culpei pessoas, já me zanguei com pessoas, já deixei as poder ver à frente por me terem magoado. O que estou a dizer é que não vale a pena. Assim como não vale a pena usar a mente para resolver o que é emocional. Eu tentei... Muito! Tenho um Mercúrio muito ativo e a dada altura desenvolvi-o bastante porque, achava eu, se não tinha valor por mais nada, havia de ter pela inteligência. Errado! Enquanto se usar a mente contra o coração, em vez da mente a favor do coração, vai dar m... Asneira. Não nego que teve os seus benefícios. O meu Mercúrio que tantas vezes foi a minha maldição, transformou-se no meu dom. Em parte, é o pensar demais e colocar tantas questões dentro de mim que gera o caos emocional e existencial. É a necessidade de compreender o sentido das coisas, de atribuir significados ás experiências da vida que muitas vezes me traz problemas. Mas também é a necessidade que eu tenho de comunicar e de me expressar que me fez desenvolver a escrita, a fala e aprender a linguagem dos símbolos. É através da escrita que me expresso melhor e é através dos símbolos que me encontro melhor. Portanto, nada é absolutamente bom ou mau.

E ás vezes aquilo que para uns é lixo, para os outros é ouro. Se eu não tivesse esta imensidão de significados complexos e tantas vezes indecifráveis dentro de mim, não seria capaz de compreender como compreendo a imensidão e o potencial do Ser Humano. É esta complexidade interna que me permite olhar para as pessoas e facilmente, intuitivamente, perceber padrões, emoções, energia. E foi isto que me levou a encontrar formas criativas de me expressar e a encontrar uma linguagem mais profunda do que aquelas que usamos nas conversas de café, que desse um sentido a tudo aquilo que eu sou e ainda me ajudasse a tentar ser melhor.

Quando conseguimos levantar os olhos do umbigo e olhar para a vida a partir de uma perspetiva ampla, percebemos uma boa parte do que é a interação humana e ganhamos uma nova perspetiva sobre o que andamos aqui a fazer. Não vale a pena ficar zangado com este ou com aquele. A vida é pessoal, mas o mundo não é. O nosso mundo externo é só um espelha o nosso mundo interno e a Vida, Deus, o Universo, chamem-lhe o que quiserem, na sua sabedoria imensa, apenas fazem os cálculos matemáticos que lhes permitem encontrar o match perfeito para as nossas desgraças internas se transformarem em dons únicos e pessoais. E muitas vezes a Vida não nos dá aquilo que nós queremos. Pedimos a Deus, rezamos, peregrinamos, choramos, acendemos velas e não acontece. E nós desesperamos, sofremos, damos voltas ás questões, tentamos de mil maneiras diferentes e mesmo assim não acontece. Até que um dia nos fartamos e desistimos. Atiramos a toalha ao chão. Nesse dia das duas uma: ou recebemos finalmente aquilo que desejávamos; ou percebemos que ao virar da esquina estava uma oportunidade muito melhor, muito mais alinhada com o nosso caminho. Isto porque nunca é sobre o que nós queremos, é sobre o que precisamos. Se, por exemplo, precisarmos abdicar de estratégias de controlo e de manipulação, baseadas em medos de sobrevivência, de abandono, a vida até nos pode dar o que queremos, mas só nos vai dar quando aprendermos a libertar. Não que me tenha acontecido a mim, foi a uma amiga! 

Então... é respeitar os processos, não levar o que os outros nos devolvem demasiado a peito e compreender que tudo o que a Vida quer é que sejamos autênticos, que vivamos a nossa verdade e de preferência com muito amor. Não adianta tentar ser o que não se é. Eu posso achar que o que está certo é ser muito tranquila, serena, comedida e a vizinha do lado pode achar que certo é ser determinada, destemida e ir atrás do que se quer com unhas e dentes. E quem é que está certo? Quem segue o que a alma lhe pede com o coração no leme! Quem é autêntico, íntegro e faz o melhor que sabe com aquilo que tem. Não somos ilhas e precisamos encontrar uma forma de sermos quem somos no mundo, mas não podemos abdicar de quem somos para termos um lugar no mundo.


(Obrigada Nuno Michaels e Vânia Silva)


 
 
 

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